O Diário
“Olá, meu nome é Patrícia. Me senti na necessidade de divulgar os textos que meu filho Antônio escreveu em seu Diário, para ver se consigo colher informações sobre o que aconteceu a ele. O meu menino só tinha dezesseis anos, quando morreu, dia oito de Janeiro deste ano. O crime ainda não foi esclarecido pela polícia, que fez pouco caso do que havia acontecido. Eu encontrei meu filho morto, e parcialmente devorado em seu quarto, toda a casa estava banhada de sangue, porém a perícia apontou que o sangue não era dele. O texto abaixo, estava escrito em seu diário, que foi encontrado próximo ao corpo.”
Dia sete de Janeiro: Olá Diário! Hoje acordei meio sem vontade de ir a escola, então fingi que estava doente. Preocupada com minha saúde, minha mãe me deixou ficar em casa. Bem, eu não fiquei exatamente em casa. Fui a casa de meu amigo Victor, que também não havia ido a escola. Nossa, foi muito bom! Nós passamos o dia todo jogando. E foi quando ele falou:
- Antônio, eu imprimi um conto de terror muito legal, ele se chama O Orfanato. Eu só li a primeira parte, mas hoje vou ler a segunda e amanhã eu te empresto para você ler.
- Tá certo, mas não mude de assunto só porque está perdendo!
Nós dois rimos.
Algumas horas depois me despedi do Victor e fui para casa. Minha mãe brigou muito comigo, pois segundo ela eu estava doente somente para ir a escola, mas para ficar jogando video-game eu estava bem. Não posso negar a verdade por trás disso. Fui para o meu quarto e fiquei vendo TV até cair no sono.
Dia oito de Janeiro: Acordei muito disposto hoje, me arrumei, tomei café como faço todos os dias e passei na casa de Victor para ir a escola junto com ele. Quando me aproximei, logo avistei uma ambulância na porta de sua casa. Sua mãe estava chorando, debruçada, sobre um corpo coberto por um lençol branco em cima de uma maca. Corri até lá, porém quando cheguei perto, fui contido por alguns policiais que lá estavam.
- O que houve? - Perguntei a eles. – Me digam logo o que aconteceu!
O pai de Victor se aproximou.
- Deixem ele passar. – Disse ele.
- O que aconteceu, senhor Carlos?
Ele colocou a mão sobre meu ombro e com lágrimas escorrendo seu rosto, me disse:
- Victor morreu.
- O que? – As lágrimas começaram a descer involuntariamente dos meus olhos. – Como foi isso? Ontem mesmo nós estávamos brincando!
- Ele foi dormir tarde pois estava lendo uma coisa que imprimiu. Fui ao quarto dele e ele me disse que já estava terminando de ler, e que logo ia dormir. Quando acordei, fui ao quarto dele para acordá-lo para ir a escola. Ele já estava morto em sua cama. Parece que o coração dele parou durante a noite.
Eu corri até a maca. Mas Elisa, a mãe de Victor, me interceptou.
- Não vá até lá. – Ela dizia, enquanto o carro do IML saia com o corpo dele. – Mas venha, vamos entrar.
Nós entramos na casa, e eu curioso, perguntei:
- O que ele estava lendo?
- Ele estava lendo isso.
O pai de Victor me entregou várias folhas grampeadas.
- Posso ficar? – Perguntei.
- Pode sim. – Ele respondeu.
Saí da casa de Victor chorando e com as folhas na mão. Ao chegar em casa, minha mãe perguntou porque eu não havia ido a escola. Ao saber o motivo, ela logo me deu razão. Subi ao meu quarto e comecei a ler o que Victor estava lendo. O texto era enorme, e dividido em duas partes, mas eu o li por inteiro. A coisa que me chamou mais atenção, foi o final do texto, que dizia que quem tivesse lido estava condenado ao Inferno. “Mas que bobagem” eu pensei. Deixei o texto em cima de minha mesa e fui deitar. Chorei até pegar no sono, somente a imagem de Victor me vinha a cabeça, e aos meus sonhos, até que o toque de uma mão em meu rosto me despertou.
“Esta parte, segundo a perícia, foi escrita dentro do guarda-roupas dele, estava toda borrada e com uma marca de sangue na folha, no entanto, estava legível”.
Eu não tenho tempo para escrever com detalhes tudo que aconteceu, mas, vou procurar ser o mais detalhista possível para descrever o que está acontecendo comigo. Não sei o que tem lá fora, porém, vou procurar manter a calma para escrever. Depois do toque da mão em meu rosto, eu acordei assustado, estava suado como se tivesse acabado de jogar bola. Procurei o que tinha tocado meu rosto, mas não encontrei nada. Olhei pela janela do meu quarto “Nossa, já é noite!”. – Eu disse. Saí do meu quarto e desci as escadas. “Mãe”. – Eu gritei. Porém estava sozinho em casa, pois toda noite meus pais saem juntos para casa de um amigo. Me sentei no sofá, liguei a TV e fiquei lá por um tempo. De repente as luzes da sala começaram a piscar, a TV saiu do ar e todas as torneiras da casa foram abertas. Me virei para a porta que leva até a rua e lá eu vi, uma figura horrenda. Era Victor, atrás de mim, me observando perto da porta. Ele babava como um cão raivoso, estava despido, e com um corte profundo em seu peito, parecia ter sido cortado com um bisturi ou algo parecido. O susto que levei foi além do que meu coração poderia aguentar. Comecei a andar para trás e o Victor atrás de mim.
- Victor, sou eu! – Gritei assustado.
Ele vomitou sangue no chão, sujando todo o tapete da sala. Eu corri desesperado até a cozinha e peguei uma faca involuntariamente, quando aquela sensação horrível de ser observado, tomou conta de mim. Olhei para a janela e vi uma criança olhando para mim, pelo lado de fora. Sombras começaram a surgir de todos os lados da cozinha, eu podia vê-las pela janela da frente. Eram homens, eles estavam andando lá fora e gritando meu nome. Comecei a gritar por socorro, mas nada aconteceu. Olhei novamente a janela, e a criança não estava mais lá, mas vi que ela estava dentro de minha casa, andando em minha direção, pronta para me atacar. Corri novamente até a sala, mas no caminho, saiu uma mão derrubando-me no chão. Olhei para quem me derrubou. Era um homem, aparentemente com trinta anos, ele vomitava constantemente, uma coisa marrom, gosmenta, que estava deixando a casa com aquele cheiro forte e nojento. Corri para meu quarto e vi gêmeas me olhando, com um sorriso tenebroso no rosto, mas de repente elas desapareceram. “Preciso avisar alguém sobre o que está acontecendo aqui”. – Pensei. Olhei para o lado e vi meu diário, ele estava jogado perto de algumas roupas, então comecei a escrever o que tinha acontecido hoje. Escrevi em paz, por um tempo, mas vi alguns movimentos lá fora. Alguma coisa estava dentro do meu quarto. Por entre as frestas do guarda-roupas, pude ver uma sombra. Era uma pessoa andando pra lá e pra cá, mas a sombra desapareceu repentinamente. Eu estou calado, não estou fazendo barulho algum. Alg...
“Essa foi a ultima coisa que ele escreveu antes de ser encontrado morto, por mim e pelo pai dele. Eu não sei o que aconteceu depois disso, mas o que fizeram com meu filho foi brutal, foi desumano e cruel. O texto, que o pai de Victor tinha entregado a ele, desapareceu, mas, na fuga, a pessoa que matou meu filho deixou uma folha cair no chão, no entanto, o sangue seco grudado na folha, a tornou ilegível. Não sei se estou ficando louca, mas, desde o dia em que meu filho se foi, coisas estranhas estão acontecendo em minha casa. Me sinto observada, vultos espreitam no escuro, torneiras se abrem sem ninguém estar lá para abri-lás, eu escuto pegadas subindo as escadas e pessoas sussurrando em meus ouvidos, me fazendo acordar durante a noite assustada. Tenho certeza que alguém está na minha casa, só não sei quem...”
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